Quem entra no mundo acadêmico sabe que algo que não pode falar é um... PEN DRIVE!
Sim, meus caros colegas... Pen drive, um email com grande capacidade de armazenamento e uma boa memória para salvar todos (eu disse T-O-D-O-S, para não dá sorte ao azar. E quantos 'azares' vocês já não sofreram?!) os arquivos de trabalhos realizados.
Pois bem... No meu pen drive, um mundo particular foi criando: a pasta chamada "Não se aproxime, são coisas IMPORTANTES!". Dentro desse mundinho, um arquipélago denominado UFAL, que é composto por 8 ilhas banhadas por águas ora serenas, ora turbulentas.
Então... Gostaria de convidá-los a ir a minha ilha "1º Período", que considero a mais tranquila e prazerosa de se visitar, e mergulhar em suas águas históricas. Que tal?
- memórias, lembranças, estórias que conto às vezes, saudade...' #CaioFernandoAbreu
RELATÓRIO
DE PESQUISA
Entrevista:
Idoso acima de 80 anos*
INTRODUÇÃO
Este relatório foi elaborado a partir de uma
entrevista realizada com um idoso acima de 80 (oitenta) anos, com o objetivo de
obter dados sobre os níveis de instruções escolares dos indivíduos desta faixa
etária, que possibilite uma eventual e posterior análise.
A restringência da idade – as entrevistas,
realizadas pelas alunas de Pedagogia 2008.1/Matutino, só poderiam ser com
idosos que possuíssem o tempo de vida superior ou igual a 80 anos (salvo uma ou
duas exceções) - foi exigida por uma razão mais que especial: o de resgatar e
preservar as memórias dos mais antigos anciões.
Ao longo deste trabalho, haverá aproximações
e comparações entre fatos ou idéias que se assemelhem total ou parcialmente: estes
confrontos são entre os dados históricos repassados e, devidamente, estudados
no ambiente escolar e a narrativa do senil e observação, diante dele, por mim,
efetuada.
O encontro para a realização da entrevista
foi feita na varanda da casa do entrevistado. No lugar se encontravam
presentes, além da ‘jovem pesquisadora’ – termo referente à elaboradora deste
relatório, que também se apresenta como neta do idoso -, o proprietário da
residência, um de seus filhos e duas de suas netas, estes que muito
contribuíram para o longo processo de perguntas-e-respostas. Durante o
procedimento, sua esposa, filhas e netos aproximaram-se do local apenas para
observar ou para perguntar ao entrevistado algo referente à suas necessidades
diárias: se gostaria de se alimentar, por exemplo.
Muito mais que proveitosa, a entrevista
seguiu da melhor forma possível, apesar do profundo sentimento de tristeza e
lamentações, seguido de comoventes lágrimas, que acabou por interromper a continuidade
das falas do narrador.
Embora tenha terminado antes do previsto,
pois o objetivo era interrogá-lo com mais algumas perguntas prevista em um
roteiro cedido pela a professora/orientadora que requisitou este projeto, o
fato é que, satisfatoriamente, o trabalho pôde resultar, com sucesso, nesta
exposição escrita.
Segue então, por meio deste relatório, a
exibição da seqüência de respostas e histórias do idoso entrevistado.
A ENTREVISTA: História Escrita X ‘História Viva”
Semi-alfabeto - indivíduo meio analfabeto;
mal alfabetizado; semiletrado (dicionário DICMAXI Michaelis) -, com ascendentes
de primeiro grau sem nenhuma instrução primária, o entrevistado, natural da
cidade de Campo Alegre, zona rural, que, atualmente residente no município de
Coruripe, do mesmo modo, interior do estado de Alagoas, possui como tempo de
vida 84 anos - nascera, portanto, em 1924, ano em que a Constituição
“’garantia’ a educação para todos brasileiros”, idéia esta, aprovada como lei,
no século anterior, em 1827, e em muitos outros momentos da história, ter sido
reforçada (como no Governo Vargas, em 1930).
Apesar de não ter freqüentado escola alguma,
por não haver nenhuma na região – na época, os prédios dos primeiros grupos
escolares ainda estavam em fase de construção no país. Em Alagoas, dos 17
grupos, oito funcionavam em casas sem nenhuma aparência de escola. Graciliano
Ramos, nestes tempos, secretário da educação, declarou que o sistema de criação
desses grupos escolares, após a Revolução de 30, só existia em decreto - e
também por não usufruir de condições financeiras para tal, o personagem desta
história, aprendeu a ler, escrever e contar (soma e subtração).
O pouco que aprendeu quanto aos estudos
escolares tomou conhecimento pelo tio, que o criou como filho, pois o pai do
entrevistado falecera quando este era ainda recém-nascido.
Sendo o único da família a possuir certo
contato com a escrita, o tio tentou repassar aos sobrinhos – o entrevistado e
dois de seus primos - as suas noções sobre as letras e os números. Não havia
estrutura física para tal ensino, o que se assemelha a condições vividas
séculos atrás (1549 – 1759).
O entrevistado iniciou seu processo de
aprendizagem, por volta dos 10 anos (1934), quando recebe seu primeiro ABC –
material que continha os conteúdos de uma das matérias estudada por ele: o Português.
Além da Língua Portuguesa, a Matemática era igualmente ensinada.
O ancião diz não saber como o ‘professor’
aprendera o domínio da leitura.
Após um período, todos os aprendizes
desistiram das aulas, salvo o idoso entrevistado.
Ele relata que havia um relacionamento
agradável com o tio, nunca ter ocorrido castigos físicos, como forma de repressão
- recurso muito utilizado no processo de aprendizagem, e praticado, aqui no
Brasil, desde o século XVII, após a expulsão dos Jesuítas, estendendo-se até o
século XX, apesar de muito antes, no início da República, ter sido criada leis
para que a extinção de qualquer tipo de formas de tortura (à exemplo da
palmatória) fosse efetuada, -, e que só
foi, e que tinha um grande interesse pela educação escolar. Lamenta não ter
tido a oportunidade de freqüentar o ambiente de ensino, a escola como espaço
físico. Indícios disto são: dos 12 (doze) filhos que teve 11 (onze)
freqüentaram escolas particulares, pagas com demasiado esforço. A exceção foi
devido caso de óbito, ainda na infância.
Em uma de suas falas, cita a notável
importância dos estudos em sua vida: possibilitou a comunicação à distância,
entre ele e o tio, por via de cartas, após este último ter ido morar em outra
residência distante.
Nesta época da sua infância, quando começara
a dominar a leitura, criou como hábito ler: almanaques, de onde se apropriou de
um dos nomes lidos para pôr em sua primeira filha (Maria Canuta); jornais e
folhetos; e livros de romance. Enfatiza dizendo que, apesar de não se
interessar por poesias, as liam. Hoje, diz gosta de ler, freqüentemente, a
Bíblia Sagrada.
“A chave da preguiça é a chave da pobreza”,
foi a frase lembrada, dita pelo tio, que assim o incentivava para os estudos.
Sobre a história de sua trajetória de vida, diz
ter sofrido muito, especialmente o período que viajou para o Rio de Janeiro à
procura de melhores condições de vida, e por motivos de saúde – uma Hérnia.
Um fato interessante que ocorreu nesta viagem
foi ter conseguido um do emprego no histórico Colégio D. Pedro II – também
chamado de Ginásio Nacional, o instituto de ensino, fundado por volta de 1837,
tinha base humanística e literária. Este ambiente, em que os professores eram,
geralmente, bacharéis, médicos, padres, engenheiros, foi considerado, no
princípio da sua consolidação, modelo para o ensino secundário no Brasil,
modelando os demais colégios e liceus criados no país - , onde iniciou
trabalhando de servente de pedreiro, mas, ainda no primeiro dia de serviço, por
ter Hérnia, foi pedir à diretora da instituição para ser transferido de função.
Com êxito, conseguiu mudar para o cargo de serviços gerais, onde trabalhava na
cozinha do colégio. Vale ressaltar que este acontecimento, tornou-se muito
importante, visto que foi o primeiro contato com um estabelecimento de ensino,
mesmo que não tenha sido com a finalidade de estudar.
Ao ser questionado sobre a formação que teria
tido, se tivesse tido a oportunidade: após um curto momento de reflexão,
seguido de um singelo sorriso, responde dizendo que seria algo relacionado ao
comércio – Comerciante/Empresário -, porque “dava dinheiro”.
Quanto à importância dos estudos, exprimi-se
brevemente: “a leitura foi muito importante, se não tivesse a vida seria pior”.
Neste momento, a entrevista é cessada, pois o
senil, abalado emocionalmente, chora bastante ao recordar lembranças de sua
vida.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
De acordo com a entrevista, percebeu-se que
muito do que foi apresentado pela história escrita, não se incorpora à realmente
vivida, ao menos pelo o idoso aqui apresentado.
“O princípio de educação para todos não
estava e nem está se cumprindo.” A frase retirada do texto ”EDUCAÇÃO BRASILEIRA E ALAGOANO A PARTIR DO
SÉCULO XVI” é o que define a situação do idoso entrevistado e milhares de
brasileiros.
Com tudo, espera-se que o objetivo deste
trabalho de pesquisa - um dos primeiros das alunas do primeiro período de
Pedagogia -, o de obter dados para que se estabeleça uma análise dos níveis de
instruções escolares dos indivíduos entrevistados, a partir de suas próprias
narrativas, seja devidamente executado.
*Relatório
apresentado como exigência parcial para o cumprimento da disciplina Fundamentos
Histórico da Educação e da Pedagogia, do curso de Pedagogia - Licenciatura, da
Universidade Federal de Alagoas, sob orientação da professora Dra. Maria das
Graças de Loiola Madeira.
Só mais uma coisinha.
ResponderExcluirNesse trabalho, eu fiz o meu primeiro - e ÚNICO!kkk - agradecimentos em trabalhos. Dá uma lida aê...
"AGRADECIMENTOS: Agradecimentos destinados, primeiramente, aos meus pais que tanto incentivaram meu ingresso nesta universidade, e, ainda, incentivam a minha permanência e conclusão na mesma. Ao demais que fazem o mesmo, são dados, por mim, as mesmas gratidões.
Reconheço também a contribuição que recebi de todos os professores que tive ao longo de minha vida escolar, em especial, os que me fascinaram com pequenas atitudes humanitárias, destinadas à mim e a tantos outras pessoas.
E por fim, aos professores e colegas de turma, que tive o prazer de conhecer e conviver durante o semestre decorrente.
Uma etapa das nossas vidas deu início. Sem dúvidas, o semestre mais difícil, porém deleitoso, que será levado como uma boa lembrança ao longo de todo o percurso nesta academia."
Eu morri de rir quando reli o último parágrafo agora a pouco "SEM DÚVIDAS, O SEMESTRE MAIS DIFÍCIL"?! Ô-Meu-Deus, doce ilusão! kkkkkk